Cinema e Democracia
[POR]
A democracia é o governo do povo, mas, para se fazer presente de fato, o povo precisa ser imaginado, ou, em outras palavras, traduzido em imagens. Nesse sentido, a capacidade do cinema de expressar ânimos e anseios coletivos o torna uma arte privilegiada para pensar a democracia. Conflitos sociais ignorados nas câmaras legislativas são capturados pelas câmeras cinematográficas e reivindicações populares bloqueadas pela burocracia estatal ganham embalo através do ritmo mecânico do projetor. O povo da democracia se manifesta, seja nas urnas, nas ruas ou nos telões.
A cinematografia nacional oferece uma história particular da política no Brasil. A montagem, com seus planos sequências e cortes diretos, reproduz o próprio vai e vem da democracia brasileira, que parece nunca se consolidar em definitivo, ameaçada por sombras e lampejos autoritários. Nas provocações de Glauber, na coragem de Murat, no afeto de Coutinho ou nos dramas de Babenco, cinegrafistas, roteiristas e montadores contribuem para tornar a democracia, com todos seus méritos e contradições, muito além de uma formalidade, algo sensível aos olhos e ouvidos de seus espectadores.
[ENG]
Democracy is the government of the people, but to be truly present, the people must be imagined, or, in other words, translated into images. In this sense, cinema’s ability to express collective feelings and desires makes it a privileged art for thinking about democracy. Social conflicts ignored in the legislative chambers are captured by cinematographic cameras. Popular demands blocked by the State bureaucracy gain momentum through the mechanical rhythm of the projector. The people of democracy manifest themselves, whether in the ballot boxes, on the streets or on the big screens.
National cinematography offers a particular history of politics in Brazil. The film editing, with its sequential shots and direct cuts, reproduces the coming and going of Brazilian democracy, which never seems to be definitively consolidated, threatened by authoritarian flashes and shadows. In Glauber’s provocations, in Murat’s courage, in Coutinho’s affection or in Babenco’s dramas, cameramen, screenwriters and editors contribute to making democracy far beyond a formality. With all its merits and contradictions, cinema turn democracy into something sensitive to the eyes and ears of the audience.
[ESP]
La democracia es el gobierno del pueblo, pero para hacerse presente de hecho, el pueblo necesita ser imaginado, o, en otras palabras, traducido en imágenes. En este sentido, la capacidad del cine para expresar estados de ánimo y anhelos colectivos lo convierte en un arte privilegiado para pensar la democracia. Conflictos sociales ignorados en las Cámaras legislativas son capturados por cámaras cinematográficas y las demandas populares, bloqueadas por la burocracia estatal, ganan impulso a través del ritmo mecánico del proyector. El pueblo de la democracia se manifiesta ya sea en las urnas, en las calles o en las pantallas grandes.
La cinematografía nacional ofrece una historia particular de la política en Brasil. El montaje, con sus planos, secuencias y cortes directos, reproduce el vaivén de la democracia brasileña que nunca parece consolidarse definitivamente, amenazada por sombras y relámpagos autoritarios. En las provocaciones de Glauber, en la valentía de Murat, en el cariño de Coutinho o en los dramas de Babenco, camarógrafos, guionistas y montadores contribuyen a hacer de la democracia, con todos sus méritos y contradicciones, mucho más que una formalidad, algo sensible a los ojos y oídos de sus espectadores.