Peões

Resenha

Às vésperas de Luiz Inácio Lula da Silva ser eleito presidente, Eduardo Coutinho se propõe a fazer um documentário sobre as greves do ABC, uma série de manifestações operárias por direitos trabalhistas que encabeçaram a resistência à ditadura. A experiência antecipou grandes movimentos populares como as Diretas Já e serviu para congregar a esquerda até então fragmentada no que viria a se tornar a Central Única dos Trabalhadores e o Partido dos Trabalhadores, além de lançar o nome do então futuro presidente no imaginário brasileiro.

Peões é mais um dos muitos documentários que busca entender a história do Partido dos Trabalhadores, aquele que passaria a governar o país por 13 anos. No entanto, não se propõe a apenas recontar a história oficial. Em vez de figuras que se tornaram célebres a partir daqueles acontecimentos, Coutinho ouve justamente os esquecidos pela história, os sem nome que participaram e testemunharam aquele momento grandioso, mas que nunca foram reconhecidos como grandiosos por isso.

Similar com Cabra Marcado para Morrer, o intervalo de vinte anos entre o presente filmado e o passado revisitado mostra um olhar “menor”, porém envolvente de se ouvir e não menos relevante de se saber. Munido de um álbum com dezenas de fotos de jornais e uma compilação de trechos de filmes que registraram as greves, Coutinho solicita que lideranças sindicais identifiquem os muitos rostos de antigos companheiros que compunham a multidão. 

São esses sujeitos, de nome e papel desconhecidos tanto por historiadores quanto pela própria equipe do documentário, que de fato narram a história do país. Aos seus entrevistados, Coutinho pergunta sobre as greves, sua militância desde então, sua memória e sobre a relação com o então futuro presidente Lula.

Ficha Técnica 

Direção: Eduardo Coutinho

Elenco: Maria Socorro Morais Alves, José Alves Bezerra, Zacarias Feitosa de Morais

Duração: 85 min

Sugestões de Leitura

MESQUITA, C. Entre agora e outrora: a escrita da história no cinema de Eduardo Coutinho. Galáxia. n. 31, 2016, p. 54-65.