Lançado em 1981, Escândalo foi o terceiro álbum – como se costumava chamar – de estúdio da cantora, compositora e pianista carioca Angela Ro Ro.
Quarenta anos depois, o conjunto de onze canções que mesclou, com surpresa e maestria, gêneros como rhythm and blues, rock e jazz ao brasileiríssimo samba-canção não produz o mesmo interesse da imprensa que a vida íntima da cantora, prato cheio para os jornais à época.
Com diagramação simulando uma manchete de jornal, capa e encarte retrucaram, como dizem os versos da canção que intitula o álbum, escrita por encomenda ao amigo Caetano Veloso: “[…] o grande escândalo sou eu / aqui só”.
“Só” significava isolada. Excluída das rádios e das páginas dos cadernos culturais dos jornais, direto para o noticiário policialesco. A cantora assumiu-se lésbica e sua vida privada foi reportada com veemência por uma cobertura sensacionalista, promovida pela imprensa nacional.
O disco, então, serviu de recado debochado da artista que, além da capa, entrega no encarte uma carta no formato release (texto direcionado à imprensa), destacando, em letras garrafais, “E isto é Música”.
No texto, Ro Ro defende a separação da “criatura humana” da “mulher criadora”. E deixa seu recado biográfico, que a motivou na gravação do disco, quando diz que: “uma outra razão é a de que grande número de pessoas tenha já abusado do direito de criticar e julgar, não só meu trabalho, mas minha pessoa a ponto de me deixarem tão só para escrever esse release”.
No início dos anos 1980, o Brasil caminhava para a democratização e a imprensa começava a navegar em mares de liberdade de expressão, mas a garantia das liberdades individuais – incluindo a de orientação sexual – ainda eram objeto de disputa, e chegaram às capas de discos em forma de protesto e direito de resposta.