Elizete Sobe o Morro

Elizeth Cardoso

A carioca Elizeth Cardoso foi conhecida como “A Divina”. Intérprete versátil, gostava de brincar com a voz e a inscrição de seu nome. Durante a carreira, assinou como Elizette, Elizeth e Elizete e, sendo muitas, jamais se afastou da Elisete Moreira Cardoso, seu nome de batismo. Nascida no subúrbio da Zona Norte do Rio de Janeiro, começa a cantar ainda pequena, incentivada pelo pai,  com apresentações para as crianças do bairro.  

Na ficha técnica de Elizete Sobe o Morro, disco de 1965, ela descreve, sem modéstia, que o álbum de doze faixas com duração de 37 minutos tem muito “Samba Clássico, Bossa Nova e MPB”, gêneros até então separados pela geografia do Rio de Janeiro.

Pioneira na luta pelo reconhecimento das mulheres na indústria da música, não somente Elizeth subiu ao morro, mas levou com ela a vontade de mesclar a bossa com o samba. Desde 1958, a cantora vinha entoando as melodias bossa-novistas em discos aclamados pelo público e crítica. Interessada na pesquisa musical da sonoridade nascida nas escolas de samba, Elizeth torna-se também uma representante do que mais tarde se veio a creditar como samba-canção. O gênero, que funde o morro e o asfalto da orla de Copacabana,  fez fama nas vozes das colegas Dalva de Oliveira e Maysa.

 A capa foi desenvolvida pelo artista plástico Walter Wendhausen, catarinense, radicado no Rio de Janeiro. Especialista em relevos e colagens, o artista recebeu a alcunha de “pintor de sucata”, pois de um tudo utilizava em suas obras, de ferro retorcido a madeira de demolição. Com Elizete Sobe o Morro não foi diferente, assinou o título do disco em um emaranhado de lascas de madeiras pinceladas por cores nacionais, um retrato de como se via a formação das favelas cariocas. Wendhausen foi responsável por outras capas que marcaram a história da música brasileira, com destaque aos discos de Paulinho da Viola.

O disco marca também a parceria de Elizeth com o produtor Hermínio Bello de Carvalho. Juntos criaram um repertório singular que reunia canções de Zé Keti, Cartola, Nelson Cavaquinho, Elton Medeiros, Candeia, Paulinho da Viola, mestres do samba nacional. Com eles, o morador do morro entrou, afinal, na geografia da música brasileira.

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