Oito anos separam a “Lampadada da Paulista” (2010), que veio a ser o ato homofóbico de maior repercussão no país, da capa de Não para não (2018), segundo álbum de carreira da cantora drag queen Pabllo Vittar.
As agressões praticadas por uma gangue de quatro adolescentes e um jovem de dezenove anos foram capturadas por câmeras de segurança da avenida Paulista, o cenário da Parada da Diversidade, a recordista de público entre as Paradas pelo mundo. As imagens foram reproduzidas exaustivamente pelo noticiário nacional. A homofobia atingiu um nível de banalidade até então jamais reportada.
A motivação discriminatória e a violência gratuita quase levaram à morte uma das vítimas atingida no rosto. O rapaz, que caminhava com mais dois amigos, teve uma lâmpada fluorescente covardemente estilhaçada na região dos olhos e foi atingido por sequência de golpes e chutes na cabeça, quando já estava imobilizado e caído ao chão. O episódio marcou não somente a comunidade dos sexualmente diversos, mas fez chegar aos lares brasileiros a brutalidade das estatísticas, que ano a ano denunciam um cenário devastador no país que mais mata LGBTQIAP+ no mundo.
Em 2017, quando ainda produzia o trabalho que daria continuidade ao avassalador sucesso de seu álbum de estreia, pelas redes sociais, Vittar precisou enfrentar uma avalanche de ataques homofóbicos. Grupos anônimos compartilharam em massa imagens de lâmpadas fluorescentes como forma de ameaçar a artista, recuperando o abominável episódio ocorrido na Avenida Paulista em 2010.
Não demorou e uma onda de denúncias buscou paralisar as ofensas. Haters (“odiadores”) e lovers (admiradores) protagonizaram as atenções no ambiente digital brasileiro.
Em resposta, a artista buscou ressignificar os ocorridos e fez das lâmpadas sua arma de ascensão. Na capa de Não para não surge uma espécie de sol de lâmpadas, que nasce para todos, iluminando a cantora, que performa um corpo guerreiro, pronto para mais sucesso.