Álbuns brancos em tempos de ditadura

As capas brancas surgem em 1968 entre artistas da indústria da música norte-americana. Serviram para confrontar a mercantilização cultural ou para se alinhar a movimentos estéticos iniciados por artistas visuais, muitos deles responsáveis por capas de grupos como The Beatles, forte influência para artistas brasileiros naqueles tempos.

Já os artistas brasileiros encontraram na expressão das capas brancas um manifesto de protesto e anunciação de resistência ao regime ditatorial instalado no país. Caetano Veloso e Chico Buarque foram dois dos artistas nacionais que pintaram de branco suas obras e imprimiram nelas seus recados à perseguição política que vinham sofrendo.

 

Três esfuziantes capas de álbum antecederam a minimalista obra Caetano Veloso (1969), cuja capa transgrediu ao estampar a relação entre arte e contexto social nos anos de chumbo, o período mais repressivo da ditadura militar no Brasil. Um tanto carnaval (“Atrás do Trio Elétrico”), um tanto bossa nova (“Não Identificado”), a recorrente explosão de cores deu lugar a um disco esvaziado pela capa branca, traduzindo a melancolia e a suspeição da vida social e política brasileira. A concepção da capa, desenvolvida pelo artista visual Lincoln Nogueira, trouxe ainda a personalização da figura do artista ao situar sua assinatura no centro.

Retirar da capa os olhos azuis de Chico Buarque não deve ter sido tarefa fácil para Regina Vater, autora da obra posta como queixa à censura sofrida pelo cantor em “Chico Canta”, de 1973. A capa inicialmente proposta não passou com aprovação pelos olhos dos censores. Tudo precisou ser alterado, do título à imagem com que encartariam o álbum. Quando deixou de ser “Chico canta Calabar” para renascer editado como “Chico Canta”, deixou também de imprimir em sua capa a imagem de um muro no qual se lia grafitada a palavra CALABRAR, assim, em letras grandes como em caixa alta, e com tinta escorrida, um chamado às ruas, à reação, aos protestos.

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